“Houve um tempo que foi necessário nos calar para sobreviver; agora precisamos falar para resistir”, afirmou Lucilene Tremembé, uma das 450 lideranças indígenas, homens e mulheres, que atenderam ao chamado do cacique Kayapó Raoni Metuktire para participar do Encontro dos Povos Mebengokrê, que começa nesta terça-feira (14) e vai até sexta-feira (17), na Terra Indígena Capoto Jarina, às margens do rio Xingu, no Mato Grosso.
Todos querem ouvir o que a liderança brasileira mais respeitada no mundo tem a dizer. Raoni foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz 2020 pela Fundação Darcy Ribeiro (Fundar), por sua dedicação e luta pelos direitos dos povos indígenas e pela preservação da Amazônia.
“Sempre vemos o Raoni fora de sua aldeia para defender os povos indígenas. Agora ele nos chamou à sua casa. Algo inédito”, diz Lucilene. A expectativa dela sobre o evento é a mesma de todos entrevistados pela Amazônia Real: união de forças e vozes.
São esperados no encontro representantes de 47 povos de todo o país, além dos Kayapó e Tremembé: Yawalapiti, Kalapalo, Txicão, Kaiabi, Enawenê-nawê, Guarani Ñandeva, Guarani-Kaiowá, Terena, Tapirapé, Munduruku, Arara, Ka’apor, Apiaká, Guajajara, Kuikuro, Xakriabá, Kaingang, Tupiniquim, Xikrin, Fulni-ô, Wapichana, Taurepang, Keruxo, Wajãpi, Tupari, Surui, Araposo, Xavante, Chiquitano, Kuruaya, Xipaya, Potiguara, Suyá, Tapayuna, Juruna, Panará, Apu, Trumai, Kisêdjê, Truká, Tuxá, Paresí, Kawaiwete e Khĩsetje; entre outros.
As discussões do Encontro dos Povos Mebengokrê serão presididas pelo Cacique Raoni, de 89 anos, na aldeia Piaruçu, no município de São José do Xingu. “Nos últimos 12 meses, o mundo vem acompanhando a crescente onda de ameaça aos povos tradicionais brasileiros. Nesta oportunidade, indígenas de diferentes gerações pretendem elaborar um plano de ação em conjunto para enfrentar o problema”, diz a organização do evento, que é coordenado pela Fundação Raoni.
Durante o Encontro dos Povos Mebengôkrê as lideranças indígenas também irão abordar temas como arrendamento de Terra Indígenas; a Ferrogão (ferrovia que ligará Sinop, no Mato Grosso, a Itaituba, no Pará) e outros megaempreendimentos que afetam territórios; a terceirização e municipalização da saúde indígena; o desmonte das políticas indigenistas; a questão dos índios isolados; a proibição de atendimento aos indígenas em terras não homologadas; o genocídio indígena; o que está por trás dos ataques e o papel da juventude, da mulher e do movimento indígena no momento atual.