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Coordenador da Saúde Indígena em São Félix do Araguaia é acusado de insultar indígenas

Nas explicações dadas pelo coordenador, as palavras proferidas não se referem à população indígena, mas sim a uma situação pontual

06/12/2021 | 08:35 - Atualizada em 06/12/2021 | 08:37

G1

Coordenador da Saúde Indígena em São Félix do Araguaia é acusado de insultar indígenas

Foto: Reprodução

Um áudio que circulou na ultima semana com insultos e declarações ofensivas a índios gerou indignação entre lideranças indígenas em Mato Grosso. No áudio, o coordenador do Distrito de Saúde Especial Indígena (DSEI) do Araguaia (MT), o suboficial reformado da Marinha, Ronalde de Barros Ramos, fala, entre outras coisas, que os índios citados não trabalham e não produzem nada e que têm que aprender trabalhar com os não-indígenas.

Segundo a conselheira local do Conselho Regional de Saúde Indígena (Considi), Luciene Karajá, de 50 anos, as ofensas aos povos indígenas começaram gradativamente desde a chegada do militar à coordenação do DSEI do Araguaia, em São Félix do Araguaia, no nordeste do estado, em 2020. Em áudio, ocoordenador de Distrito de Saúde Indígena em MT insulta índios

A Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), por meio do Ministério da Saúde, informou que a parte da conversa que foi gravada não apresenta a totalidade do diálogo, omitindo parte importante da conversa já em andamento. "A gravação, feita sem conhecimento do coordenador, possibilitou que o contexto da conversa fosse colocado de acordo com os interesses do profissional, numa clara tentativa de desmoralizar o coordenador", diz trecho.

Nos últimos dias, a tensão aumentou com o vazamento do áudio de Ronalde insultando os indígenas e discutindo com funcionários de outros órgãos. “Vocês não sabem porra nenhuma. Nada. Nem trabalhar vocês sabem. Um monte de terra, ninguém produz nada. Querem só ficar vivendo de miséria do povo, do governo. Vocês têm que ter vergonha na cara e trabalhar. É isso que vocês têm que fazer. Aprender a trabalhar com 'tootori' [referência a não indígenas]. É isso que vocês têm que aprender", diz em trecho. Em seguida, ele diz que é mestiço e aprendeu a trabalhar.

"Nós temos que aprender, porque eu também sou índio. Eu sou mestiço e aprendi a trabalhar. Eu nem preciso trabalhar mais, sou aposentado, ganho R$ 12 mil da Marinha e tenho mais duas casas alugadas. Eu trabalho dia e noite. Quando eu sair daqui, vou trabalhar lá fora. É isso que vocês, o nosso povo, tem que aprender a fazer, é trabalhar. Coisa que não fazemos", afirma no áudio.

"Há 500 anos nós fomos descobertos e não conseguimos trabalhar, aprender com 'tootori' [não indígena] a produzir. Vocês não eram para precisar de Saúde Indígena, de saúde de merreca de governo, nosso povo era para ser milionário pela terra que nós temos. O que falta para nós é disposição para o trabalho, é isso que está faltando para o nosso povo", diz em sequência.

Segundo Luciene Karajá, a discussão começou quando um conselheiro do Considi, Juanahu Iny Tori, questionou os gastos com combustíveis para a realização de o curso de capacitação 'Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância', entre os dias 22 e 26 de novembro.

Juanahu teria sugerido que o combustível fosse usado no transporte e atendimento às crianças doentes em vez de ser utilizado no curso. Ainda na última sexta-feira (26), houve uma pequena manifestação em frente ao DSEI do Araguaia contra essa medida.

Sobre a crise desencadeada no DSEI, a Associação Indígena do Vale do Araguaia (Asiva) emitiu uma nota de repúdio, afirmando que “os relatos dos nossos parentes e que não é a primeira vez que o coordenador usa sua autoridade para humilhar os funcionários indígenas”.

"A Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) informa que o Coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Araguaia, Ronalde de Barros Ramos, vem exercendo a coordenação do distrito com qualidade técnica de modo a manter a assistência de saúde dos indígenas da região, com apoio dos profissionais do DSEI e do controle social.

Conforme explicações dadas pelo coordenador, as palavras proferidas não se referem à população indígena atendida pelo distrito, mas sim a uma situação pontual envolvendo um indígena e outros colaboradores que trabalham no distrito e, há tempos, não vêm desempenhando suas atividades a contento sendo que, quando cobrados, acabam não corrigindo as falhas identificadas.

A parte da conversa que foi gravada não apresenta a totalidade do diálogo, omitindo parte importante da conversa já em andamento. A gravação, feita sem conhecimento do coordenador, possibilitou que o contexto da conversa fosse colocado de acordo com os interesses do profissional, numa clara tentativa de desmoralizar o coordenador. O Distrito informa que trabalha em harmonia com o controle social, composto por conselheiros, e que o Conselho Distrital está acompanhando a apuração dos fatos."

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