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Cacique pivô de esquema com pecuaristas já recebeu prêmio por lutar contra exploração de terra indígena

A Justiça determinou medidas cautelares diversas da prisão para o cacique

18/03/2022 | 16:50 - Atualizada em 18/03/2022 | 16:55

Redação

Cacique pivô de esquema com pecuaristas já recebeu prêmio por lutar contra exploração de terra indígena

Foto: Olhar Direto

O cacique Damião Paridzané, alvo da Polícia Federal por participar de um esquema de corrupção que envolvia fazendeiros, liderança indígena e servidores do órgão federal que realizavam arrendamentos ilegais na Terra Indígena Xavante Marãiwatsédé para desenvolvimento de atividade pecuária, já recebeu um prêmio nacional, em 2014, justamente por defender o contrário disto. À época, ele comentou que não negociaria com fazendeiros.

O cacique já foi homenageado na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), durante o XI Seminário de Educação (Semiedu 2013), sendo reconhecido como ‘lutador’ dos povos indígenas. Depois, em Brasília (DF), com a presença da então presidenta Dilma Rousseff (PT), ganhou um reconhecimento na 20ª edição do Prêmio de Direitos Humanos.
 
Neste dia, ele recebeu um troféu por “nunca ter negociado com fazendeiros e políticos, e sempre afirmar: ‘eu só preciso da terra”.
 
A premiação em Brasília aconteceu no dia Internacional dos Direitos Humanos. Na ocasião, foram feitas 21 condecorações e duas menções honrosas, entre elas Paulo Freire e Cacique Damião Paridzané da Terra Indígena Marãiwatsédé.
 
Durante a premiação, foi lembrada a sua história, de quando em 1966 os Xavante de Marãiwatsédé foram expulsos de suas terras tradicionais no nordeste mato-grossense, em uma articulação entre a Igreja Católica, os fazendeiros, o Governo Federal e a Força Área Brasileira. Só em 2013, houve desintrusão total de não-indígenas da Terra Indígena Marãiwatsédé.
 
“A 20ª edição do Prêmio de Direitos Humanos reafirma a missão de reconhecer a atuação fundamental do cacique Damião para divulgação de boa práticas e ações que promovem cidadania e garantia de direitos”, dizia o texto da premiação na época.
 
Em entrevista ao Repórter Brasil, em 2013, o cacique disse com todas as palavras que “fechamos um compromisso, não vamos nem alugar nem arrendar nossas terras. Fazendeiro é sabido, se a gente alugar o pasto, ele vai entrando cada vez mais um pouco, e aí volta todo mundo”.
 
“Estamos esperando para ocupar a terra e precisamos de assistência e apoio. É hora de fazer projetos e temos conversado sobre isso na comunidade. Primeiro, precisamos de apoio para recuperar a natureza. Segundo, melhorias de saúde e escola. Depois, apoio para agricultura ou para pequenas criações”, concluiu.
 
Caminhonete e dinheiro
 
A Polícia Federal encontrou uma mala com quase R$ 14 mil reais dentro da caminhonete SW4 do cacique Damião Paridzané, na manhã desta quinta-feira (17), durante ação da operação ‘Res Capta’. O veículo também seria um presente ganhado pelo indígena que recebia repasses de propina de até R$ 900 mil para arrendamentos ilegais na Terra Xavante Marãiwatsédé.
 
Foram alvos de mandados de prisão: Jussielson Gonçalves Silva; Gerard Maxmiliano Rodrigues de Souza e Enoque Bento de Souza. O cacique Damião Paridzané não foi preso na ação. Já a caminhonete foi apreendida. Houve um pedido para que o veículo possa ser, posteriormente, remetido para uso da Polícia Federal.
 
A Justiça determinou medidas cautelares diversas da prisão para o cacique, sob pena de decretação de sua prisão preventiva em caso de descumprimento. Entre os impedimentos estão: firmar parcerias para criação de gado ou qualquer outra forma de exploração da T.I Maraiwatsede e de manter contato com Jussielson e Gerard Maxmiliano. Suas contas foram bloqueadas, mas ele foi autorizado a sacar até R$ 20 mil por mês para despesas.
 
Outros que foram alvos de medidas cautelares são: Aldemy Bento da Rocha, Bruno Peres de Lima, Claudio Ferreira da Costa, Derso Portilho Vieira, Ivo Vilela de Medeiros Junior, Gilsom Nunes da Silva, Ivonei Vilela Medeiros, João Victor Borges Correia, Justino Agapito de Oliveira Xerente, Marcos Alves Gomes – Alcunha Marco do Raul, Manoel Pinto de Araujo, Osmair Cintra dos Passos, Saconele, Zaercio Fagundes Golveia e Wilian Paiva Rodrigues.
 
Na investigação, constatou-se que servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Ribeirão Cascalheira/MT, estariam cobrando valores de grandes fazendeiros da região para direcionar e intermediar arrendamentos no interior da Terra Indígena Xavante Marãiwatsédé.
 
No total, existem na área aproximadamente 70 mil cabeças de gado, conforme o delegado da Polícia Federal Mário Sérgio Ribeiro de Oliveira. A perícia apontou uma média de R$ 3 mil por cada animal, sendo que o montante do rebanho seria em torno de R$ 210 milhões.
 
Em razão de pedido da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, a Justiça Federal em Barra do Garças/MT consignou que os fazendeiros devem desocupar a área e retirar de lá todos os animais, em um prazo de 45 dias.
 
O delegado Mário Sérgio revela ainda que os fazendeiros não tinham qualquer preocupação com a terra. “Não se preocupavam em preservar o meio ambiente. Buscavam extrair todas as riquezas. Até porque, não tinham nenhum vínculo com a terra”.
 
Apenas em quatro dos quinze arrendamentos ilícitos, os Peritos Criminais Federais estimaram o valor para reparação do dano ambiental em R$ 58.121.705,87 (cinquenta e oito milhões cento e vinte e um mil setecentos e cinco reais e oitenta e sete centavos).

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