Imprimir

Imprimir Notícia

25/03/2020 | 09:58

Economista prevê queda da receita em MT e aumento no valor da carne

O economista Oscemario Daltro prevê um cenário econômico difícil em Mato Grosso diante da crise provocada pela pandemia da Covid-19 (novo coronavírus).

Em entrevista ao MidiaNews, Oscemario afirmou que em um primeiro cenário, de 15 a 30 dias, o impacto será sentindo mais pelo Estado, com a redução da receita no recolhimento de Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

O governador Mauro Mendes (DEM) já informou que essa queda deve girar em torno de  20% a 30%. A receita de Mato Grosso mensal gira em torno de R$ 1,6 bilhão. 

Já em um segundo cenário, de mais de 30 dias, conforme o economista, o impacto irá começar atingir o setor privado, caso as medidas adotadas para prevenção da doença, como o fechamento de empresas, sigam até depois de abril.

Para Oscemario, quem deve sobreviver à crise é o agronegócio. Isso porque, segundo ele, apesar da queda no preço das commodities [produtos de origem primária], a exportações devem crescer para repor estoques nos países atingidos pelo vírus.

Por outro lado, conforme o economista, esse aumento nas exportações, diminui a oferta no mercado internO e, consequentemente, encarece os preços dos produtos. Com isso, de acordo com ele, o preço da carne deve sofrer um novo aumento nos próximos meses.

Leia os principais trechos da entrevista:

MidiaNews – Quais os principais impactos econômicos que o Estado irá sofrer nesse primeiro momento por conta do coronavírus?

Oscemario Daltro – Nós não temos dados ainda, mas podemos fazer uma análise do quadro. Permanecendo como está, o Estado vai sofrer um impacto na economia sem sombra de dúvida.  

Nesse primeiro momento, vamos ter uma redução da receita pública frente a essa situação de paralisação parcial das atividades econômicas.

Essa redução já começa agora, nessa quinzena de março, que vai refletir em abril. Se isso persistir por mais tempo, vai ter que se rever, inclusive, as projeções do orçamento, mas esperamos que não chegue a esse ponto.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Estado também vai ter reflexo, porque nós temos uma redução do consumo que impacta também, além de uma queda no preço das commodities.

MidiaNews –  Essa queda no preço das commodities pode afetar a produção no agronegócio?  

Oscemário Daltro - O cenário mostra o preço das commodities caindo. Nós somos um Estado eminentemente exportador de commodities. Mas, por outro lado, temos uma vantagem que pode contrabalancear essa redução, que é o aumento das exportações.

Como os preços das commodities são feitos no mercado internacional, o preço do dólar elevado facilita ainda mais as nossas exportações. Ou seja, o nosso produto em real fica muito mais barato. Mas para quem vai exportar, no caso dos grandes exportadores, na hora de transferir esse recurso em reais, vai ter um volume muito maior. Eles vão ter um ganho satisfatório.

O cenário mostra aí um ganho de 12% a 25% para o exportador de commodities por causa da questão cambial. 

Por outro lado as importações ficam muito caras. Para a próxima a safra o que nós vamos ter? Os insumos, que são importados, vão estar com preço muito elevado, porque se compra em dólar. Então, se ganha um pouco agora na exportação, devido à questão cambial, mas quando formos importar os seus insumos, aí, sim, vai ter um problema muito sério para a produção da próxima safra.

MidiaNews – Há risco, portanto, da próxima safra sofrer redução?  

Oscemário Daltro - Eu não vejo redução, mas os custos vão ficar elevados. Vai aumentar o custo de produção. Isso pode refletir a médio e longo prazo no PIB do Estado, devido a esse cenário incerto, que seria de seis meses. Ninguém sabe ao certo.

Se o preço do mercado internacional estiver muito baixo, acompanhando esse processo todo, vamos ter, sim, uma redução no plantio, porque o produtor não vai arriscar com o custo elevado. Mas vai depender do que vai acontecer nos próximos 60 dias. 

Midia News – Na sua avaliação, o agro sobrevive a essa crise?

Oscemário Daltro - Sem sombra de dúvida, até porque ninguém vai parar de comer. Daqui a pouco o preço da carne vai voltar a subir novamente. A carne vai aumentar, porque o mercado internacional vai aumentar o consumo. Os chineses não vão parar de comer por conta da crise. Haverá uma demanda muito grande, inclusive para aumentar os seus estoques para suportar esse momento de crise.

Quando a demanda internacional é muito alta, o que se faz? Diminui a oferta no mercado interno para sobrar justamente produto para exportação e, quando você diminui a oferta no mercado interno, o preço aumenta e, consequentemente, o preço de outras proteínas também aumenta, porque a procura será maior.

MidiaNews – Há risco de aumentar o desemprego no Estado por conta dessas medidas contra o coronavírus?

Oscemário Daltro - O Governo Federal tem tomado algumas medidas para evitar o crescimento do desemprego, até porque nós já temos um índice alto desde 2016.

Já foi houve o retardamento do recolhimento de encargos sociais, redução da carga horária com a redução de salário, aumento de crédito, redução de taxa de juros, enfim. Nós estamos vendo o Governo Federal agir e isso é muito bom.

MidiaNews – E quanto ao fechamento das empresas. O quanto isso pode impactar na economia e no desemprego?

Oscemario Daltro - Essa situação que a gente está vivendo mais localizada de alguns setores fechando, como bares e restaurantes, é necessário para evitar a proliferação do vírus.

A previsão é que até o final de abril nós já tenhamos uma situação mais favorável, mas se passar de 60 dias, fica difícil, porque imagina um comércio que não pode abrir as portas... Como vai manter 10, 15 ou 20 funcionários?

Mas o Governo está tomando as medidas para evitar as demissões, porque se não o impacto será muito grande porque sem emprego, sem renda, agrava as questões de ordem social e aí, o Governo terá que entrar com programas sociais para mitigar esse problema. Com isso,  o déficit público aumenta.

O cenário é bastante complicado se nós passarmos aí mais de 30 dias com essas medidas.

Até final de abril, com as medidas que estão sendo tomadas pelo Governo Federal para a manutenção de empregos, as empresas sobrevivem, passando disso aí, é precisa rever o cenário para adotar novas estratégias.
 
 Imprimir