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22/12/2021 | 14:54

Novos armazéns no Araguaia devem diminuir espera de caminhões e agilizar colheita da safra 21/22

Querência é um município do Nordeste de Mato Grosso que figura entre os 10 maiores produtores de soja do país e, na safra 21/22, aumentou a área destinada à agricultura e deve cultivar mais de 370 mil hectares com a oleaginosa. Com uma média de produtividade esperada em cerca de 68 sc/ha, a previsão é que sejam produzidos no município 1.5 milhão de toneladas do grão. De milho, são mais 1.72 milhão de toneladas esperadas nos 250 mil hectares que devem ser destinados à cultura. Toda essa produção precisa ser processada (principalmente secada) e armazenada. Só que, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), Querência possui capacidade estática de armazenamento de apenas 1.28 milhão de toneladas, dividida em 44 armazéns. E é nessa conta que não fecha que o problema começa.

O maior gargalo da produção agrícola de Mato grosso

A Conab estima que o ideal é que a capacidade estática de um município seja 1,2 vez maior do que a produção. No exemplo dado de Querência, apenas para a soja, seriam necessários pelo menos mais 520 mil toneladas de capacidade para se chegar ao ideal. Isso sem levar em consideração que a safra do milho (safrinha) começa a entrar nos armazéns enquanto ainda há soja armazenada. A situação se repete em todos os municípios do Médio Araguaia matogrossense e ainda em vários outros de todo o Mato Grosso. 

Em Canarana – MT, outro exemplo, a Conab estima 837 mil toneladas de capacidade estática de armazenagem, numa junção de 32 armazéns e silos de tradings e particulares. A previsão é que o município, só de soja, produza 967 mil toneladas na safra 21/22, também evidenciando déficit de armazenagem. É claro que os armazéns conseguem escoar parte do que recebem durante a colheita, liberando espaço para novos recebimentos. Contudo, a já existente margem apertada fica à mercê de qualquer eventualidade, que pode agravar ainda mais a situação, como foi o caso da safra passada (20/21).


Naquela colheita da soja, uma realidade observada no Médio Araguaia foi o alto acúmulo de carretas e caminhões nos pátios dos armazéns da região. O Presidente do Sindicato Rural de Canarana, Alex Wish, lembra que “foi um ano atípico, com muita chuva na colheita e isso gerou um transtorno muito grande. Soja muito úmida, com registro de produtores colhendo com até 30% de umidade”. O índice elevado e concentrado de chuvas na hora de tirar o grão das lavouras, coincidindo com poucos períodos de sol para colheita, aumentou o percentual de umidade e a quantidade de produtores colhendo ao mesmo tempo, que culminou num processo de secagem nos armazéns mais demorado, visto que o produto precisou passar mais de uma vez pelos secadores antes de ser armazenado, além de um fluxo maior de caminhões chegando pra descarregar ao mesmo tempo, resultado da janela de colheita pequena.

Uma reportagem da AGRNotícias, de 23 de fevereiro de 2021, por exemplo, apontou filas de até 36 horas para descarga em Canarana – MT. A situação do município também foi identificada em toda a região e mais, em todo o Mato Grosso, Estado que possui déficit de 50% na capacidade de armazenagem. 

Diante de todo esse cenário deficitário, o produtor rural reclamou, argumentando que o aumento contínuo da produção da porteira para dentro deveria ser refletido na infraestrutura para garantir processamento e armazenagem dessa produção do lado de fora também. O ponto de agravo é que  sem investimento a situação só tende a piorar, pois somente em Canarana, conforme o Secretário de Agricultura, Cleyton Dias, a área de soja deve seguir aumentando nos próximos cinco anos, devendo chegar a 350 mil hectares. Concomitantemente, a produção também aumentará.

E a situação vem tomando proporções maiores, tendo em vista que a soja é uma commoditie e, um abalo na ponta da cadeia produtiva, pode afetar o mercado do grão como um todo. Coube a vários agentes responder ao chamado da classe produtiva por uma solução. Entidades, o próprio Governo Federal, tradings e os próprios produtores também foram em busca de alternativas. E os primeiros resultados começam a surgir:

Armazém respondendo à demanda

Em Canarana e no município de Água Boa – MT, a empresa Agrícola Alvorada foi uma das que atendeu o chamado dos produtores, e iniciou recentemente a construção de dois novos armazéns, um em cada município, bem como a implementação de novos equipamentos para o processamento dos grãos. 

Terry Cardoso, responsável pela unidade da Agrícola Alvorada em Canarana – MT, em entrevista para a AGRNotícias, explica que a empresa que, já era uma das principais recebedoras da produção regional, investiu e pretende já operar na colheita da soja 21/22 com um novo secador, com capacidade de 200 ton/h, que somado ao existente, totaliza 450 ton/h de capacidade de secagem. 

“Nós atendemos mais de duzentos produtores no município. Esse investimento vai melhorar significativamente o fluxo de recebimento diário da empresa. Além disso, vamos implementar um novo silo pulmão, de 2 mil toneladas, para casos de carga muito úmida, onde passamos a soja uma vez pelo secador, jogamos pro “pulmão” e já liberamos espaço para próxima carga. Quando o fluxo de recebimento diminui, a gente pega essa soja no silo e passa de novo pelo secador para só então jogar pro armazém”. 

Em Água Boa a empresa vai mais que dobrar a capacidade de armazenagem, e com o novo armazém, chegará a 193 mil toneladas de capacidade estática. O município tem uma produção estimada para safra, de 684 mil toneladas de soja. A Agrícola Alvorada deve responder estaticamente, por 28,2% disso. Na junção dos cinco municípios mais produtivos da região (Canarana, Querência, Água Boa, Gaúcha do Norte – MT e Nova Xavantina – MT), a empresa explica que deve corresponder, de forma estática, por 16,5% da produção de soja. As unidades da empresa de Canarana e Água Boa serão as duas maiores do Vale do Araguaia.

Aumento na armazenagem própria

Os próprios produtores também se debruçaram sobre o problema e foram atrás de soluções. Em Querência, por exemplo, um grupo de pequenos e médios produtores resolveram agir coletivamente, construindo um novo armazém através de uma cooperativa. 

Outra saída encontrada pelos produtores da região, foi partir para a armazenagem na própria propriedade. Somente em 2021, em apenas uma empresa que constrói instalações do tipo na região de Gaúcha do Norte, foram disponibilizados na região, 27 orçamentos. O empreendimento, contudo, esbarra na falta de recursos e linhas de financiamento por parte de agentes públicos e privados para financiamento dessas estruturas.

Para atender essa falta de recursos, o Plano Safra 21/22, emprestou no Brasil, através do Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), nos três primeiros meses do Plano (julho/agosto/setembro), R$ 596 milhões. O total programado para a safra é R$ 4,14 bilhões, 84% mais do que na safra 20/21. Só que esse montante, avalia a Aprosoja Mato Grosso, entidade que representa os produtores do Estado, ainda é abaixo do necessário para corrigir o déficit de forma rápida.

Desta forma, a associação lançou a campanha Armazém para Todos. Pela campanha foi disponibilizado um simulador, que atesta que produtores rurais que possuem qualquer tamanho de área têm viabilidade para a construção de armazém, com estrutura proporcional ao que produz, com retorno do investimento em até cinco anos. Além disso, a entidade busca construir junto aos bancos, alternativas de linhas de crédito para financiar a construção de silos e trabalha para facilitar o acesso dos produtores ao financiamento.

“Infelizmente estamos tendo algumas dificuldades! {…} Existe uma dificuldade no valor para se construir um armazém. Tudo ficou muito caro, principalmente a questão de ferragem e mão de obra. Outra coisa é a questão da energia elétrica; A situação da energia na região é quase caótica. Muitas propriedades têm condição de construir um armazém, mas não tem energia elétrica. Ai fica complicado! E pra você fazer 100km de rede trifásica para chegar na propriedade, inviabiliza tudo”, salienta Alex Wish.

Quebra galho
Como última solução, de forma paliativa, armazéns de pulses (feijão, gergelim e pipoca, por exemplo) da região, como os localizados em Canarana – MT, já deram indicativo que podem receber soja na safra 21/22. Das três empresas ouvidas pela AGRNotícias, uma afirmou que já está praticamente definido que receberá soja em 2022 e outra disse que ainda está em estudo com boas chances disso acontecer. 

Como balanço da próxima safra, contudo, apesar dos investimentos e ajustes, há uma preocupação latente para que esses investimentos sejam constantes, não só de forma regional, mas em todo o Estado. “Eu, como produtor, não vejo uma solução a curto prazo que resolva o problema. {…} Infelizmente, por mais que tenham produtores investindo em capacidade de armazenamento nas próprias fazendas, construindo armazéns, {empresas se adequando}, a gente acredita que não vai ser suficiente para resolver o problema. Se o tempo repetir o do ano passado, teremos um problema sério de novo. A esperança, contudo, é que seja um ano melhor na colheita, com um pouco menos de chuva e que consiga fluir um pouco melhor,” finaliza Alex Wish.
 
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