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Ritual do Kuarup reforça laços familiares e culturais dos indígenas do Xingu

Ao final do evento, são entregues peixes às etnias convidadas pelas famílias que estão de luto, de acordo com a tradição e como forma de agradecimento

03/11/2022 | 08:35

Redação

Ritual do Kuarup reforça laços familiares e culturais dos indígenas do Xingu

Foto: Ascom

O Kuarup é um ritual fúnebre sagrado que mantém viva a cultura e a tradição de diversas etnias do Parque do Xingu (MT). O evento ocorre sempre um ano após a morte dos parentes indígenas. Os troncos de madeira, colocados no centro do pátio da aldeia, ornamentados, representam cada homenageado falecido e ponto principal de todo o ritual. Em torno deles, as famílias realizam uma homenagem aos entes queridos.

No primeiro dia de evento, os indígenas realizam as tradicionais pinturas dos troncos e também dos familiares que estão de luto. Ainda na parte da manhã, ocorre a dança dos guerreiros e a Dança Uruá, em que dois indígenas percorrem as casas da aldeia tocando a flauta uruá, que dá nome ao rito. Durante a tarde e até o final do dia, é entoado o canto sagrado Kuarup Maraka. Na ocasião, há a recepção solene das etnias convidadas e a condução dos enlutados para perto dos troncos Kuarup.

No segundo dia de evento, os convidados podem apreciar a tradicional luta chamada Huka Huka. A preparação da modalidade inicia-se na noite anterior, na qual os guerreiros se prepararam, se arranhando com dente de um peixe da espécie "cachorro", passando ervas em toda a pele e pintando seus corpos e cabelo com jenipapo e urucum. Tudo isso com um objetivo: enfrentar seus adversários e, assim, ganhar a luta.

Durante a Huka Huka, os guerreiros jovens se enfrentaram com o objetivo de tocar a coxa do adversário ou derrubá-lo, segurando a sua perna. Ganha quem consegue isso primeiro. Ao final da luta, os ornamentos colocados nos troncos no dia anterior são retirados e entregues às famílias dos mortos homenageados. Em seguida, os troncos são atirados na água para que a alma deles seja liberta.

Após os combates, inicia-se o cerimonial de meninas moças. Nessa parte da festa, as meninas que, até então, estavam em reclusão pubertária pelo período de um ano, são direcionadas aos chefes das aldeias convidadas e oferecem a eles castanhas de pequi. As longas franjas de cabelo, que cobrem todo o rosto, são cortadas um pouco acima dos olhos. A partir daí, em comum acordo com os parentes e, caso se interessem, podem constituir matrimônio.

Ao final do evento, são entregues peixes às etnias convidadas pelas famílias que estão de luto, de acordo com a tradição e como forma de agradecimento. O Kuarup é de suma importância para os indígenas do Xingu, pois ele promove e reforça as relações internas da comunidade; estabelece e fortalece as crenças com aqueles que se foram; e constrói uma imagem e reconhecimento externo, dando maior visibilidade à cultura indígena.

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