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UFG empossa 1º professor de graduação indígena; profissional é de aldeia de Confresa

Gilson Ipaxi’awyga é graduado e especializado em Educação Intercultural, tem mestrado em Letras e Linguística e trabalha na formação de novos professores indígenas

14/02/2023 | 09:11

Redação

UFG empossa 1º professor de graduação indígena; profissional é de aldeia de Confresa

Foto: Reprodução

A valorização por meio do respeito à cultura e tradição, e como ferramenta de inclusão social é um dos pilares da Política de Inclusão da Universidade Federal de Goiás (UFG) registrada em seu Plano de Desenvolvimento Institucional (2023-2027). Prova desse compromisso foi a posse do professor mestre Gilson Ipaxi’awyga Tapirapé, 39, do povo Apyãwa de Confresa, Mato Grosso, em cerimônia realizada nesta tarde, no Núcleo Takinahakỹ de Formação Superior Indígena, Campus Samambaia.

Comandada pela reitora da UFG, professora Angelita Pereira de Lima, o evento teve a presença de convidados, alunos, representantes internos das faculdades Ciências Sociais, Letras, Ciência e Tecnologia de Aparecida, Instituto de Matemática e Estatística, Núcleo de Direitos Humanos e Museu da UFG e a da chefe do Núcleo Takinahakỹ, professora doutora Aline da Cruz.

“A posse do professor Gilson é fruto de uma inovação nos editais de contratação docente da UFG. Agora temos um professor indigena para formar outros professores e para educação dos povos indígenas. Nosso núcleo indígena recebe um novo professor que representa o compromisso desta universidade com uma política pública inclusiva, um compromisso para uma universidade secular. E assim teremos ainda mais povos originários representados aqui por suas produções literárias, acadêmicas e científicas”, destacou a reitora.

Durante sua fala, Angelita de Lima anunciou também o plano de criação de uma casa para alunos indígenas, a exemplo da Casa de Estudante da UFG. “Nos formamos um grupo de trabalho para debater o melhor modelo. Ela deve receber parte dos 300 indígenas que estudam na UFG e que participam das aulas presenciais em dois períodos por ano aqui em Goiânia. Em breve teremos um projeto e captamos recursos para tornar possível essa obra”, revelou.

Professor Gilson começou seu discurso às lágrimas, um misto de alegria pela posse em seu concurso e a lembrança de seus parentes que partiram. “Sinto a presença do meu pai neste momento. Foi muito difícil chegar até aqui. Perdi minha mãe ainda no mestrado e meu avô ano passado”, recordou. Assistiram a cerimônia seu pai, sua esposa, seus dois filhos (de 17 e de 3 anos) e sua nora.

Para o Jornal Opção, Gilson falou sobre sua trajetória docente e os desafios até a chegada no corpo docente da instituição que figura na 27ª colocação entre 73 instituições de ensino superior (IES) brasileiras participantes do World University Ranking 2023 da Times Higher Education.

“Sou professor desde os 19 anos e nos últimos 20 anos me graduei e fiz mestrado e no concurso concorri com oito candidatos de diferentes lugares do Brasil em um processo de três etapas: prova teórica, ministração de aula prática e apresentação e defesa do memorial acadêmico. Foi um processo difícil, mas consegui”, comemorou. 

O indígena mato-grossense falou do futuro na UFG e reafirmou seu compromisso com a formação de novos professores que irão atuar na educação de jovens e adultos em diferentes regiões do Brasil. “Fui aprovado no programa de Doutorado da Faculdade de Letras da UFG na área de Estudos Linguísticos em 2ª lugar no quadro geral e agora irei mudar com minha família para Goiânia para trabalhar e estudar na universidade. Enquanto docente no Núcleo Takinahakỹ quero compartilhar meus conhecimentos para formar professores com uma metodologia voltada para as escolas indígenas alinhadas aos valores e ensinamentos dos povos indígenas”, destacou.

Aline da Cruz, coordenadora do Núcleo Takinahakỹ, explica que o núcleo tem atuação em mais de 30 povos indígenas sediados nos estados de Goiás, Tocantins, Maranhão, Mato Grosso e Minas Gerais. Com mais de 280 alunos matriculados atualmente, todos indígenas, o processo seletivo para ingresso conta com uma média de 800 candidatos por edital de um curso de cinco anos de duração com 3.2 mil horas-aulas entre disciplinas teóricas e práticas.

“Trabalhamos com a pedagogia da Alternância. São dois meses anuais de aulas aqui e o restante do ano esses docentes em formação estão em projetos de estágio, em contato com anciãos nas aldeias e atuando como professores em suas comunidades dando aulas para alunos do Ensino Fundamental e Médio em disciplinas de Ciências da Linguagem, Cultura e Natureza”, explicou. O professor Gilson integra o quadro docente do núcleo a partir de hoje.

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