Sabia que a transparência do gelo faz diferença para seu drink? Entenda
Além de ter importância estética, o gelo serve para diluir o coquetel na medida certa e manter a bebida gelada, mas pode ser difícil atingir esse objetivo sem deixar a bebida aguada
Gelo no drink: como acertar no tamanho, transparência e formato
Foto: Alleksana/Pexels
A função do gelo em drinks vai além de apenas gelar. Na verdade, a bebida começa a ser resfriada a partir de quando é misturada, na própria coqueteleira.
Depois disso, o gelo usado na coqueteleira é descartado e o que é servido no copo vai ajudar a manter a temperatura do coquetel adequada por mais tempo, garantir a diluição correta e, claro, deixar a bebida o mais bonito possível.
Para acertar essas medidas todas, é importante prestar atenção no tamanho, transparência e até no formato da peça.
O Guia de Compras conversou com especialistas para entender até que ponto é possível produzir o gelo perfeito em casa. Leia abaixo.
Tamanho importa?
A área de contato entre a bebida e o gelo influencia na velocidade de derretimento e, portanto, na diluição do drink. O gelo está em uma temperatura mais baixa e rouba o calor do líquido por meio desse contato até se tornar água.
Pode parecer contraditório, mas, segundo essa lógica, servir cubos de gelo pequenos em pouca quantidade pode deixar a mistura mais aguada que usar um número maior de cubos ou usar apenas uma peça grande.
“Quanto menos gelo, mais diluído fica o coquetel, porque a área de contato do líquido é maior”, explica Alison Oliveira, chefe de bar do Caledônia e finalista do World Class, campeonato mundial de bartenders.
“Da mesma forma, um só cubo de tamanho grande também consegue gelar o coquetel por mais tempo e tem diluição menor, porque também tem menos área de contato”, diz Oliveira.
É por isso que drinks com alto teor alcóolico, como negroni e boulevardier, que levam apenas destilados na composição, costumam ser servidos com um cubo grande e maciço de gelo. “Você vai beber ele mais devagar, por isso precisa de mais tempo gelado”, conta.
"Agora a caipirinha, que é um coquetel que possui mais acidez e doçura, precisa de cubos menores e mais diluição, para ajudar a equilibrar esses sabores", completa o bartender.
Vale lembrar que, para coquetéis, não é ideal usar a produção de uma máquina de gelo doméstica. Esses aparelhos fazem peças furadas no meio, o que aumenta a área de contato. O objetivo da máquina não é fazer gelo maciço, mas sim produzir uma grande quantidade em pouco tempo.
Gelo transparente: estética ou funcionalidade?
Ambos. “A estética é muito importante no coquetel. É a primeira aprovação do cliente: ele vai fazer a escolha do drink pelos olhos”, afirma Alisson Oliveira.
Já do ponto de vista funcional, o gelo transparente também leva vantagem na velocidade de diluição em relação ao gelo turvo.
Segundo Rodrigo Rubira, coordenador de marketing da marca de preparados para bebidas Easy Drinks, o gelo feito em casa (turvo) se forma de fora para dentro. Como a água em estado sólido tem volume maior do que no estado líquido, aquele meio "branco" é devido à sua expansão e à presença de oxigênio na água.
"Se o gelo está translúcido, ele tem menos oxigênio e, portanto, é mais sólido”, explica Rubira. “Isso faz com que a diluição seja mais lenta e mantenha o drink gelado por mais tempo”, diz.
🍸 Como fazer em casa? Não é fácil imitar a produção desse tipo de gelo fora do ambiente profissional. “Geralmente, recebemos caixas de 8 a 10 litros de gelo de empresas especializadas”, conta o chefe de bar Alisson Oliveira.
“A água que é usada por essas empresas passa por 4 filtros diferentes e fica em freezers com temperatura controlada”, revela Oliveira.
“O gelo translúcido profissional é resfriado lentamente, em camadas, e o processo todo pode levar até 56 horas, chegando a uma temperatura de até -25°C”, complementa Rubira.
Algumas produtoras já comercializam o gelo translúcido diretamente para os consumidores, mas, se a ideia é tentar de forma caseira, os especialistas compartilham macetes para conseguir um resultado bastante aproximado:
Congelar parcialmente
Use um pote de 2 a 3 litros de volume para resfriar a água, sem deixar congelar completamente. “Deve restar uma parte líquida dentro do recipiente”, ensina Rodrigo Rubira.
“Em seguida, deve-se retirar o gelo e cortá-lo usando facas e picadores de gelo até chegar ao formato e tamanho pretendido”, completa.
“A gente faz dessa mesma maneira”, conta Alisson Oliveira. “Só que com caixas de 8, 10 litros. Usamos uma serra grande e então vamos dividindo a pedra”.
Ferver água
O método de ferver água tem como objetivo fazer com que o oxigênio se desprenda do líquido antes de ir para o congelador. Mas, segundo Oliveira, o resultado é incompleto.
“Já testei e não funcionou muito bem”, conta o bartender. “Até diminui a quantidade de oxigênio, mas ele ainda está lá. O melhor é fazer em um pote maior e cortar”, completa.
As formas do gelo
O formato do gelo também influencia no coquetel. Em um bar ou restaurante, os profissionais utilizam grandes pedras de gelo para cortar e esculpir a peça que vai para o copo.
Em casa, há recursos como forminhas de tamanhos e moldes específicos para chegar – ou, no mínimo, se aproximar – ao formato desejado de maneira mais prática. Veja abaixo os principais formatos utilizados:
🧊 Gelo em cubo
“É o tipo de gelo mais comum e versátil”, afirma Rodrigo Rubira, da Easy Drinks. “Ele resfria e dilui a bebida de forma equilibrada, sem alterar o seu sabor”, conta.
“Hoje em dia, no mercado, existem formas grandes e pequenas que você pode usar para fazer o gelo em cubo e que funcionam bem”, diz Alison Oliveira. “Mas a melhor forma é cortar de uma pedra grande. Só que vai exigir um certo nível de habilidade”, explica o chefe de bar.
Rubira também dá exemplos dos drinks que são tradicionalmente servidos com cubos de gelo: “O cubo pequeno é ideal para gin tônicas e caipirinhas, enquanto o cubo grande é perfeito para penicillin, negroni e old fashioned”, recomenda.
🪩 Gelo esférico
“Este é um dos tipos de gelo mais sofisticados e impressionantes. Ele é feito em forma de bola, que ocupa quase todo o copo”, diz Rubira. “Pelo seu grande formato, mantém a bebida gelada por muito mais tempo e dilui pouco, preservando o sabor do drink”, completa.
Rubira recomenda usar essa peça em coquetéis clássicos como o fitzgerald. Ela também vai bem em um copo de uísque.
Mas ela vem com uma desvantagem para quem quer reproduzir o efeito em casa. “É bem mais difícil de deixar translúcida, porque você geralmente vai usar a forminha de esfera e não vai conseguir fazer naquelas caixas grandes para esculpir depois”, explica Oliveira.
“A esfera é boa em casa só por questão estética mesmo. Não vai durar muito no copo se estiver turva”, julga o bartender.
🍹 Gelo moído ou britado
“Este é o tipo de gelo mais refrescante e rápido. Ele é feito de pedaços menores de gelo, que se adaptam melhor à forma do copo”, conta Rubira. “Ele é ideal para coquetéis refrescantes e frutados, que pedem uma dose extra de gelo, como mojito e moscow mule”, sugere.
“Existem vários tipos de gelo moído, como em flocos, em lascas e triturado”, diz o especialista. Para triturar o gelo, pode-se bater alguns cubos no liquidificador ou então usar um macerador diretamente na coqueteleira.
Por não ser maciço, o gelo moído tende a durar menos e diluir mais que outros tipos. Mas a regrinha da quantidade ainda está valendo: “Com bastante gelo, a bebida fica gelada por mais tempo. Com pouco, fica aguada”, lembra Alisson Oliveira.
Abaixo, veja sugestões de formas de gelo e maceradores. Em meados de fevereiro, os produtos custavam desde R$ 20 até R$ 150, nas lojas on-line consultadas.