O Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) identificou movimentações financeiras atípicas envolvendo o ministro Paulo Moura Ribeiro, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), com recursos oriundos de suposto esquema de venda de sentenças descoberto a partir de mensagens no aparelho celular do advogado Roberto Zampieri, assassinado em dezembro do ano passado, em Cuiabá. As informações são da revista Veja, que circula nesta sexta-feira (18).
Em entrevista para a revista Veja, o ministro negou ter recebido qualquer repasse de lobistas envolvidos no suposto esquema. "Nunca houve nenhuma transação, o que é isso? Não tenho negócio nenhum, nenhum, nenhum. Tenho quase 42 anos de magistratura, nunca aconteceu nada comigo”, disse.
Na semana passada, a publicação já havia revelado que o caso tinha sido remetido para o Supremo Tribunal Federal (STF) por ter alcançado uma autoridade com foro privilegiado. Agora, a publicação dá nomes aos bois. Os recursos teriam sido transferidos para o ministro pelo lobista Andreson Gonçalves.
Com o envio do inquérito para o STF, caberá aquela corte definir se a investigação prossegue ou não. Até lá, tudo o que se pode dizer sobre o caso está no campo das suposições.
A repórter Laryssa Borges, que assina a matéria da Veja, também procurou o Andreson, que também negou envolvimento no suposto esquema. “Não existe este depósito. Estão me colocando como o maior vendedor de sentença do Brasil. Não conheço, não vi, nunca estive com ninguém do STJ, com nenhum chefe de gabinete, com nenhum assessor, com nenhum ministro, com ninguém”, afirmou.
A revista diz ter tido acesso à íntegra do material extraído do telefone de Zampieri e garante que o conteúdo mostra o contrário.
“Os diálogos e os documentos recuperados mostram que havia negociações para que casos envolvendo interesses milionários fossem postergados pelo tribunal, manipulação de mandados de buscas e apreensões, vazamento de pedidos de prisão e até rascunhos de decisões que, a depender do avanço das negociatas, poderiam se materializar ou simplesmente desaparecer sem deixar vestígio”, diz a reportagem.
Em uma troca de mensagens entre Adreson e Roberto Zampieri divulgada por Veja, consta a seguinte mensagem enviada ao advogado que atuava em Cuiabá: “Manda ele pagar o da Gallotti que já resolveu”. Conforme a revista, a frase faria referência a um servidor lotado no gabinete da ministra Isabel Gallotti, do STJ.
Em outra conversa, Zampieri recebe de Adreson decisões dos gabinetes de Moura Ribeiro e Og Fernande, também ministros do STJ. A matéria também cita decisão do ministro João Otávio de Noronha, na época em que presidia o STJ.
Até o momento, as mensagens do telefone de Roberto Zampieri resultaram em duas investigações: uma no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que trata da participação de membros do Judiciário de Mato Grosso, e outra na Polícia Federal sobre a atuação de servidores e possivelmente de ministros do STJ.