Pelo menos uma questão do segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 deve ser anulada, e outra deve ter a validade analisada, segundo professores ouvidos pelo g1. Mas, apesar da possiblidade de ter respostas a menos no gabarito final, os candidatos não correm o risco de ter a nota reduzida por conta das anulações.
A questão de física sobre eficiência energética de uma cafeteira elétrica deve ser anulada por "falha conceitual".
A questão sobre biologia sobre metabolismo energético de microrganismos de uma cultura bacteriana deve ter validade analisada (podendo ou não ser por já ter aparecido de maneira semelhante em outro vestibular.
Se uma questão for anulada, não tem problema, porque a TRI compensa a anulação da questão, sem prejuízo para nenhum dos estudantes. Todos vão ter a nota parametrizada da mesma forma. — Michel Arthaud, docente de química da Plataforma Professor Ferretto.
TRI é Teoria de Resposta ao Item, o método de correção aplicado no Enem há anos. Esse método define que uma questão pode ter pesos diferentes a depender do desempenho geral do candidato.
🤔 Para que existe a TRI?
A TRI apresenta as seguintes vantagens em relação ao método clássico de correção:
- ao detectar os famosos "chutes", ela premia o aluno que, de fato, se preparou para a prova;
- possibilita a comparação entre candidatos que tenham feito diferentes edições do exame;
- torna mais improvável que dois concorrentes tirem exatamente a mesma nota, já que o resultado final é divulgado com duas casas decimais (816,48 pontos, por exemplo).
Graças a este modelo de correção, a banca do Enem também consegue "redistribuir" a nota de uma eventual questão anulada entre aquelas que avaliam os mesmos elementos da pergunta invalidada. É o que explica Átila Zanone, coordenador de conteúdo do Fibonacci Sistema de Ensino.
"Como existe um universo grande de questões e há outras que exploraram a mesma habilidade, o cálculo da proficiência do estudante — baseado na coerência de acertos dele, no nível de questões que ele acertou ou errou, e questões de proficiência mais baixo ou mais alta — ainda é possível de ser feito [com base nas outras questões]", diz.
Apesar de a nota não ser prejudicada, Mario Fernandes, professor de matemática do colégio Oficina do Estudante, avalia que pode ocorrer um prejuízo para o aluno por outro motivo: desconforto ao tentar resolver uma questão que não tem resposta correta ou tem um contexto incompleto, que impossibilita a resolução, podendo causar prejuízo emocional ou de tempo.
Esse, no entanto, não é um dos elementos considerados pela TRI na hora de redistribuir o peso da questão, o que não influi na nota final do candidato.
O g1 procurou o Inep, responsável pelo exame, para verificar a possibilidade de anulação das duas questões, mas não obteve resposta até a última atualização da reportagem.
O gabarito oficial que deve confirmar ou não a anulação seria divulgado no dia 20 de novembro, mas terá a divulgação adiantada, segundo o ministro Camilo Santana. A nova data ainda não foi informada.