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05/07/2025 | 08:25

Do prato ao copo: como o açaí de refeições salgadas da região Amazônica virou sobremesa em SP?

O açaí consumido em São Paulo está longe da fruta original da Amazônia. Conhecido na capital paulista por seu sabor doce e textura cremosa, geralmente servido com banana, granola e leite em pó, o açaí passou por diversas adaptações até chegar à tigela do paulistano. Na Amazônia, o açaí é um alimento essencial na dieta diária, não uma sobremesa. Costuma ser acompanhado de farinha, peixe frito ou camarão.

"O açaí, para ser 'raiz', não pode ter nada além do fruto e a água na sua composição", diz Andréa Brito, dona de um empório especializado em produtos do Norte na capital. Mas ela admite que, por aqui, costuma adoçá-lo. "Eu confesso que acrescento um pouco de açúcar para consumi-lo, porém, muitos nortistas também fazem isso."

A nutricionista Fabiana Poltronieri, da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), explica que a polpa do açaí é naturalmente rica em calorias, gorduras boas, fibras e antioxidantes. No entanto, essa composição pode mudar bastante dependendo do processamento.

A adaptação do açaí ao paladar paulista inclui o acréscimo de ingredientes. "Contém misturas como xaropes, estabilizantes, aromatizantes e várias outras misturas que o transformam, na realidade, em um sorvete de açaí", resume Andréa.

Segundo Fabiana, esse tipo de açaí tende a ser mais calórico. "As coberturas que incluem sorvete, leite condensado, brigadeiro, podem transformar a tigela de açaí numa bomba calórica menos saudável", alerta.

A jornada do açaí até SP

Para que um produto tão perecível como o açaí chegue à capital paulista com segurança, a polpa passa por pasteurização e congelamento logo após a extração. "A pasteurização consiste em um processo de aquecimento rápido que elimina micro-organismos, prolongando a vida útil do alimento", explica Fabiana. Esse processo, segundo ela, preserva os principais nutrientes.

Andréa reforça que a logística ainda é um desafio. "Nem sempre conseguimos transportar esses produtos com agilidade, e isso acaba impactando na oferta regular de alguns itens e no frete."

Açaí, o alimento-base da região Norte do Brasil que virou sobremesa no Sudeste — Foto: Victor Martins/TV Globo

Apesar de a maioria dos clientes do Empório Amazônico ser nortista, Andréa conta que cerca de 5% são paulistanos, e o número tem crescido. Gustavo Chawiche, de 25 anos, foi um deles. Ao conhecer o açaí in natura, ele estranhou o amargo e o sabor forte, mas gostou ao adicionar açúcar. A paixão aumentou ao complementar com a farinha de tapioca, típica da região Norte.

"Sempre consumi o açaí como sorvete, com leite condensado e paçoca. Hoje só como com farinha de tapioca. É até um pecado colocar outra coisa", diz.

A estudante de nutrição Mariana Saito, de 22 anos, também aderiu à versão pura. "O açaí consumido dessa forma é mais saudável que o açaí cremoso vendido popularmente em São Paulo."

A dica de Andréa para quem quiser experimentar a versão in natura é simples: "Experimente. Mas pode colocar um pouco de açúcar para o impacto ser menor! É uma imersão na cultura gastronômica de uma região em que esse rico alimento é a base para o sustento de muitas famílias".

"Não há alimentos proibidos, vilões ou santos. O que há é a necessidade de procurarmos ter um hábito alimentar que dê preferência aos alimentos in natura e minimamente processados", conclui a nutricionista.
Para Andréa, o açaí raiz é mais que um alimento: é uma experiência cultural. "Aqui no empório, nossas duas colaboradoras, que são paulistanas, já não conseguem mais tomar o 'açaí de São Paulo' após consumirem o original. É um caminho sem volta!"

Onde encontrar açaí 'raiz' em SP
 
 
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